Este é um livro de duas recusas. Recusa do amor físico, uma; recusa do trabalho, a outra.
«José Matias», admirável e bizarro conto de Eça de Queiroz, publicado em 1897, narra um anacrónico e aberrante caso de amor platónico.
«Bartleby», admirável e bizarro conto de Herman Melville, publicado em 1853, narra um anacrónico e aberrante caso de recusa do trabalho.
A José Matias e a Bartleby deixou de interessar a banalidade do mundo: reservam-se para a contemplação de um mundo puro, distante e imaterial. José Matias ama a divina, e casada, Elsa e é a inacessibilidade física de Elsa que incendeia de amor José Matias. Escrivão de um advogado, Bartleby, com o seu obstinado mergulho numa inexplicável ociosidade em pleno escritório, pode parecer aos olhos das pessoas normais um «íncubo intolerável». Mas mesmo imóvel, no meio do escritório que o patrão teve de abandonar, Bartleby já não é mais do que um puro espírito.
Dois contos sublimes, que o professor e ensaísta Ricardo Vasconcelos aproxima no magnífico texto a que chamou «Bartleby e José Matias: Entre Duas Recusas».