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O multifacetado Eça de Queiroz

A 29 de Abril de 1865 Eça de Queiroz encarna, no Teatro Académico, a personagem de Correia Garção, numa peça da autoria de Teófilo Braga, mais tarde publicada com o título Poeta por Desgraça.

Eça de Queiroz nos tempos de Coimbra
Eça de Queiroz nos tempos de Coimbra

Enquanto estudante de Coimbra (1861-1866), Eça denota uma outra vertente da sua veia artística ao dedicar-se ao teatro. Durante três anos assume vários papéis como actor no Teatro Académico da Universidade, onde decorriam encenações de peças traduzidas do francês. No In Memoriam de Antero de Quental (1896), o escritor deixa uma boa alusão a esta sua condição de actor, ao fazer referência à célebre Questão Coimbrã em que não esteve envolvido, alegando mesmo: «De resto eu era meramente um actor do Teatro Académico (pai nobre)». Eça admite, ainda, que «O teatro, pouco a pouco, pusera-me em contacto com a literatura».

Já farto da França nas suas representações teatrais, Teófilo Braga – contemporâneo de Eça em Coimbra – escreve um drama, que se assumiu conciso e violento, sob o título Resignação, mais tarde publicado e intitulado Poeta por Desgraça. A estreia da peça dá-se a 29 de Abril de 1865 e retrata a história e a desgraça do poeta Garção, vítima do despotismo do marquês de Pombal que acabará por ordenar a sua soltura após saber que a vítima sucumbira. Nesta peça, Eça caracteriza o protagonista, Garção, e a sua representação gera uma onda de elogios, levando o seu autor a afirmar: «Hoje que me lembro do grande talento dramático de E. Q., é que sei explicar como os seus romances são tão bem tecidos, como as suas situações são tão logicamente conduzidas, como o seu diálogo é tão vivo.»

Pois bem, temos então um Eça de Queiroz multifacetado: actor, escritor, cônsul, entre uma série de outros papéis que representará no decorrer da sua vida.